terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Poema Fodido


"Apetece-me escrever como o Bocage
Mandar tudo para o caralho
E que se lixem as boas maneiras.
E num poema fodido
Porque estou com um humor de cão
Mando à merda a boa educação
E escrevo o que me apetece.
Dou um murro no poema
Como se desse um murro nas trombas
De quem não gosto e me chateia
A merda que escrevo é só minha
Não sou correcta, educada, certinha
E na escrita sou e faço o que me apetece!
Portanto mando a poesia para o caralho
E num poema fodido
Esmurro a página e a linha
Porque escrevo o que me apetece
E a merda que escrevo é só minha!"

Encandescente

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

DR1VE - Sem Cor HD

Não vale a pena fazer de conta. Apesar de liberto da mágoa e de braços abertos para o amanhã o meu vazio ainda me aperta por não me apartar de ter ficado refém do teu sorriso. Que talvez nunca tenha sido meu ou nunca tenha sido sorriso. Talvez mero nada que senti com uma folha em branco: que se dobra em forma de barco para navegar na maior das epopeias em direcção a nós; em que se poderia desenhar em meia dúzia de traços eu e tu de mãos dadas com o Sol sempre a brilhar; em que se poderia escrever a melhor das histórias da vontade de unir duas almas da mesma forma simples, intuitiva e casual em que as nossas bocas se uniram e nos misturaram os corpos.
Assim não foi. O papel era de rascunho e estava já demasiado escrito para eu não ter passado de uma nota de rodapé.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Roubei esta imagem


Roubei esta imagem de um amigo muito querido. Roubei não, porque os amigos partilham coisas bonitas entre si. É esse um dos espíritos das voyeuristas redes sociais, a partilha de fazeres e de ideias pelo simples prazer de o fazer.
Este ano que se aproxima a passos largos do fim não me vai deixar muitas saudades, pela instabilidade emocional transversal que me acompanhou e eu tenho sempre uma certa dificuldade em despejar a razão do sentimento e vice-versa, a ponto de não saber se sou um apaixonado incoerente ou se sou incoerente pela paixão que dedico aos outros. Aliás, mesmo já a alguma distancia tenho dificuldade em destrinçar se o entregar-mo-nos às coisas de coração é ou não uma questão de lógica, de evidência, de ter que ser assim porque senão for nem vale a pena pôr a cabeça à janela. Se só temos uma vida, para quê fazer tudo pela metade ou aos solavancos? As probabilidades das coisas correrem bem são directamente proporcionais ao seu contrário, mas só resultam se essa convicção for partilhada. E isto é uma regra que se aplica à generalidade.
Prefiro viver uma ilusão do que não viver coisa nenhuma com os pés assentes na terra, porque até o etéreo se apalpa, quanto mais não seja com a alma.
Regressado quase ao meu respirar de já quase ter sublimado tudo aquilo que este ano me fez mal ou menos bem, reencontro-me no passado para ser no futuro. Não preso ao que passou, mas a tudo aquilo que há-de.
Porque a vida é uma coisa que acontece.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Andando com o tempo


Acordei vazio ainda contigo bem dentro
Não consigo fechar os olhos sem me lembrar
De cada sorriso teu a brilhar no meu
Em cada instante que me afasto do mundo
Sinto a tua pele na minha como se fosse a minha
O teu respirar no meu ouvido, o teu beijo, o nosso abraço
Amanha sem depois sem me saber
E o que faço? O que não devo
No círculo vicioso do mesmo erro
Que quero não só porque sim
Sufoca-me a tua ausência
Dói-me o acaso que não tinha que ser
Vice sem versa, veneno sem antídoto
Conto os dias ao segundo o quanto falta
Para te arrancar de mim.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Desbafo


Por mais que tente, não me contenho. É mais forte do que eu, que querem?
Por defeito de feitio incomodam-me as coisas pequenas e as pessoas tipo "Wally", que se misturam na maralha a tentarem passar despercebidas, mas se põem vestidas com uma camisola às riscas brancas e vermelhas só para que reparem nelas. Não tem mal nenhum - digo eu. Ou terá.
Quem está abaixo do chão não desce degraus. E pode até saber subi-los, mas acaba por regressar à origem por sofrer de vertigens. Excesso de horizontalidade, digo eu.
Não tenho telhados de vidro a não ser o meu mau feitio e o hábito de responder a provocações, o que já me causou alguns embaraços e dissabores perfeitamente evitáveis. Nunca me vendi nem usei de influencias para parecer mais do que aquilo que sou e aquilo que sou basta-me.
Não faço de conta, a minha honestidade intlectual e de sentimentos não me deixa nem eu me nego. Não tenho problemas de auto-estima, seja de falta ou de excesso. Nem tenho medo de dizer o que me apetece, apesar de algum resguardo por respeitar toda a gente. Mesmo aquela que não merece.
Mas como a vida é um caminho constante para o auto-conhecimento, eu cá agito mesmo aquilo que não sei para que serve ou desconheço. Não sou lá muito fotogénico mas de certeza que não vou ficar mal na fotografia do anunciado "paparazzo", escondido ora no recanto da sua toca, ora no ghetto sub-urbano onde caça.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Livre

Hoje acordei com uma estranha vontade de sorrir
Como se o Sol que me disse bom dia tivesse levado a chuva que sujou
Tornando livre o coração e prendendo-o ao que há-de vir
Expiado de pecados de alma e sem fel na vontade que findou

A verdade é que se erra por excesso de presunção
De tanto querer o que não foi nem tinha que ser
Quando bem menos que vento se colocou na nossa mão
E menos ainda haver a perder.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Pensamento do meu dia


Ainda estou para perceber porque não sublimo o meu impulso de fazer coisas estúpidas que não gosto nem se adequam a mim...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Estranho


Hoje acordei com uma estranha aversão mas a ninguém
Talvez a mim ou a uma ideia ou a um sentido
Por me terem assaltado a alma à mão armada e eu feliz
E nada fiz senão perder-me na imagem que fiz
De um dia ou um momento o amanhã sempre presente
Naquela incerta ilusão de acreditar enquanto podemos
Mais vale abraçar um sorriso em flash do que coisa nenhuma
Mais vale sonhar do que ficar preso a uma auto-comiseração pateta
Sou. Logo existo. Por isso erro. Ausento-me. Consinto.
No eterno regresso à simplicidade de acreditar.

domingo, 12 de dezembro de 2010

"Fake Palindromes"- Andrew Bird


Hoje apetece-me.

Peter Murphy


A torrente deste som levou-me as palavras...
A vida não é boa nem má. Bem, há coisas boas e outras menos boas que nos levam a pensar duas vezes na questão, mas no fundo tudo depende da forma como as encaramos. Nada é absoluto.
E se um regresso à "idade da parvalheira" nos faz cair em pecados antigos também nos traz à memória sonoridades de que já não nos lembrava-mos.
Peter Murphy soa-me estranhamente actual. Pode ser que um dia cresça e deixe de me incomodar com uma cama poligâmica. Ou será antes um sofá monocromático? Ou uma parede policrómica? Mas de que é que eu estou para aqui a falar?

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

EVERYWHEN-MASSIVE ATTACK


Ás vezes pergunto-me se a vida é ou não circular. Só assim se explica que aquilo que vamos aprendendo e apreendendo ao longo da vida se mostra por vezes inútil e o nosso pragmatismo mero fait-divers enfiado na algibeira por razões que a minha razão desconhece. Tipo umas botas que comprei em saldos num outlet de uma "marca" nacional desconhecida por 15 euros que não eram nem pareciam grande coisa e que eu sabia que me iam magoar os pés. Mas mesmo assim comprei e dei umas voltas só para constatar que não as devia ter comprado. O que, a bom ver, eu já sabia.
Um "ataque massivo" de estupidez fez-me cair no logro que eu próprio criei. Não há volta a dar: o que não presta nunca vai prestar. Ainda estou para perceber porque paguei por uma coisa que muitos outros, com critérios bem mais flexíveis do que os meus, nem oferecido queriam.
De vez em quando dá-me para isto.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Linda Martini - As Putas Dançam Slows


Nunca percebi o porquê de num país tão pequeno quanto o nosso se persistir em deixar o talento e a qualidade de muitos no ocaso quando despudoradamente se promove um populismo bacoco e idiota ou uma qualquer mixórdia sonora estrangeira que nada cria, nada inova, nada acrescenta.
Ao invés, faz-nos menos. Menos conscientes daquilo que, com vontade, conseguimos produzir. A música é só um exemplo.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Caminho


Debito um cigarro após o outro
Olhos postos no vazio à procura de mim entre a chuva que cai
O frio não me incomoda, aceito-o em comunhão de alma
No silêncio temperado por um acorde
Respiro o sorriso que perdi e não me falta
Não me apetece apetecer o teu corpo no meu
Ás vezes só porque sim
Na monotonia de um nada que aparta o medo de cair
Ser no sonho e mais além por um dia
Foi assim


domingo, 5 de dezembro de 2010

Inverno


O Inverno lembra-me sempre da minha alma, pesa-ma, revolta-ma, na vontade de ser nuvem à espera do vendaval que a leve para longe.
O Inverno lembra-me que me tenho de ir embora, de mudar, de sentir o Sol e de respirar ao entardecer. Faz-me lembrar que tenho de deixar de tentar compreender as coisas ao pormenor e de aprender a lidar como facto de que, por mais que se tente, as folhas das árvores acabam por cair para dar lugar a outras folhas.
Há coisas que acontecem só porque sim, outras porque não poderiam ser de outra maneira.
Estou cansado. Tenho frio. Estou vazio. Não há folha que recrudesça em mim.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Em construção


Não me basto pela metade nem pelo calor da tua cama. Quero-te no ocaso e no crepúsculo. De alma em riste misturada com a minha. Brisa suave, tempestade violenta. A tua pele e mais adentro. No hoje amanhã, no ontem depois. A dois e em mim.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Verdade


A verdade é que a vontade de sorrir me tolda as evidências e me deixa ir, transformando-me de céptico ponderado num crente irreflectido. E ponho-me em risco. A jeito de tombar com o mais leve sopro, ainda que siga em sentido contrário. E insisto. Porque me custa a admitir que errei ao pensar que estava errado. Não por acidente ou erro de raciocínio, antes pura dialética de quem põem a mão no fogo sabendo que se vai queimar. E que nele fica até doer.